Cachoeira da Farofa: Uma viagem cinematográfica pela Serra do Cipó
- Dicas na Serra do Cipó
- 29 de ago.
- 5 min de leitura

Logo na entrada da Portaria Areias, no município de Jaboticatubas, começa uma das jornadas mais fascinantes do Parque Nacional da Serra do Cipó: a trilha que leva à Cachoeira da Farofa. São 8 quilômetros de caminhada até a queda d’água e mais 8 quilômetros na volta. Dezesseis quilômetros de estrada plana, de paisagem aberta, que parecem convidar o viajante a atravessar um cenário de cinema.
Antes de iniciar, é preciso preencher uma ficha simples com os dados do visitante — nome, CPF, telefone e o atrativo que se pretende visitar. Esse cuidado, exigido pelo ICMBio, faz parte da gestão do parque, que desde sua criação em 1984 protege 33.800 hectares de cerrado e campos rupestres. Ao redor, mais de dez municípios integram o Circuito Turistico Parque Nacional da Serra do Cipó. Essa área é reconhecida como parte da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço. Uma das regiões mais ricas do planeta em biodiversidade.
O primeiro passo: a trilha começa

Carro estacionado, mochila ajustada, o primeiro passo na trilha já traz uma sensação marcante: o estalado de folhas secas misturadas com areia. O som se mistura ao canto dos pássaros e ao assobio do vento que percorre as planícies. O sol da manhã, ainda tímido, aquece a pele, e a areia clara do caminho reflete a luz com intensidade. É possível sentir, às vezes, o vapor quente que sobe do solo arenoso, lembrando que ali é cerrado: clima duro, porém fértil em vida.
Logo no início, à direita, a trilha que segue para a Cachoeira Capão dos Palmitos. À esquerda, o ponto onde ficam as charretes que levam os visitantes até mais perto da Farofa. Ali já se abrem as primeiras vistas cinematográficas: ao longe, para o alto das serras que formam o Travessão, um dos cartões-postais do parque, e mais próximo, o Mirante do Circuito das Lagoas, de onde se visita o Circuito das Lagoas e o encontro dos ribeirões Bocaina e Mascates, formadores do Rio Cipó. Ainda na trilha principal, pouco frente é possível ver a direita; o Mirante do Bem. Permanecemos na trilha principal, onde o cerrado se abre em trechos planos, de vegetação baixa, salpicada de flores silvestres do campo rupestre, orquídeas e gramíneas que dançam ao vento.
Ao longo da trilha, não faltam locais para fotos memoráveis. Cada curva, cada descampado, cada árvore isolada parece pedir um registro. O olhar atento de um guia torna a experiência ainda mais especial, indicando pontos estratégicos para contemplação e lembrando sempre dos cuidados de segurança.
As paradas do caminho
Quase todo o percurso é aberto, revelando horizontes de montanhas, mas em alguns trechos o viajante encontra sombras de árvores maiores, pequenas ilhas de frescor.
Nesses pontos, uma brisa leve sopra, trazendo o alívio tão esperado no meio do caminho.
O caminho segue, plano, arenoso, por vezes cansativo. Mas logo o som da água anuncia a primeira parada: o Córrego das Pedras. Suas águas cristalinas convidam a lavar o rosto, refrescar as mãos, até mesmo mergulhar os cabelos para aliviar o calor. É o ponto perfeito para uma pausa de cinco minutos, para sentir o frescor e ganhar novo fôlego.
Pouco depois da metade da caminhada, surge, ao longe, a visão mágica da Cachoeira da Farofa: um risco branco no paredão de rocha, despencando em meio ao verde. A ansiedade cresce, e cada passo se torna mais leve.
Travessias e desafios
A trilha é a mesma que leva ao Canion das Bandeirinhas, mas antes de lá há uma placa indicando o desvio à esquerda para a Cachoeira da Farofa.
Neste ponto, a trilha segue até as margens do Ribeirão Mascates. Ali, dependendo da época do ano, o desafio aumenta. Em tempos de seca, uma pinguela de madeira estreita permite a travessia. Em época de chuvas, porém, essa ponte improvisada pode ser levada pela correnteza, e quando finalmente são liberadas as visitas pós chuva, a única opção é atravessar dentro da água, descalço, com a mochila erguida. A corrente da agua puxa levemente, os pés se apoiam sobre pedras lisas, e o coração acelera — um pequeno desafio que, mais do que obstáculo, se torna parte da aventura. Depois do Mascates, restam pouco menos de dois quilômetros.

O espetáculo da Farofa
E então, após aproximadamente duas horas de caminhada, o som da água se intensifica, ecoando entre as rochas. A visão se abre um linda queda d’água que despenca de um paredão alto, formando um poço largo e profundo. A maior parte do tempo, a cachoeira permanece na sombra das montanhas ao redor, o que torna sua água ainda mais fria. O choque térmico do primeiro mergulho é intenso, mas logo o corpo se acostuma, e a sensação de recompensa é imensa.
Ao redor, as pedras convidam ao descanso. É hora de lanchar, respirar fundo e absorver a imensidão do cenário. O corpo cansado encontra alívio no frescor da água e na paz do lugar.

Uma responsabilidade, além do passeio
Visitar a Cachoeira da Farofa é uma experiência turística incrível; um convite à consciência ambiental. O Parque Nacional da Serra do Cipó, além de proteger uma das áreas mais ricas em biodiversidade do país, é fundamental para a manutenção dos mananciais de água que abastecem Minas Gerais.
Por isso, seguir as regras é essencial:
Não deixar lixo — nem mesmo cascas de frutas.
Não levar caixas de som ou bebidas alcoólicas.
Respeitar o silêncio da natureza.
Evitar sair das trilhas demarcadas.
Cada descuido pode gerar impactos sérios na fauna e na flora. A Serra do Cipó é um santuário natural, parte da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, reconhecida pela UNESCO, e merece ser tratada com respeito.
O retorno
Depois de um tempo de contemplação e banho, é preciso lembrar: a volta tem mais 8 quilômetros. A caminhada de retorno, agora com o corpo mais cansado, revela um novo olhar. O sol já está mais alto, as sombras mudam de posição, e a mesma trilha parece diferente. Muitos visitantes descrevem essa volta como um momento de reflexão, de conexão com o ritmo lento e essencial da natureza.
Ao chegar novamente à Portaria Areias, a sensação é de conquista. A Cachoeira da Farofa destino escolhido, mas antes disto; ela foi o caminho. Cada passo, cada travessia, cada sopro de vento faz parte da experiência como um todo.
A trilha da Cachoeira da Farofa é uma das mais completas da Serra do Cipó. Cinematográfica, sensorial e repleta de aprendizados, ela ensina que o turismo consciente é a única forma de garantir que cenários como esse continuem a existir.
Para quem busca uma verdadeira jornada de imersão na natureza, a Farofa é parada obrigatória. Uma lembrança que fica gravada na memória e no coração.
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